OUTUBRO

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Lourenço Braga, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas

lourencodossantospereirabraga@hotmail.com

Outubro, que está a terminar,  é tempo de primavera, foi o que aprendi desde quando a mãe Natureza, por não violentada, entregava-se ao luxo de respeitar suas próprias leis, em sinais fortes de superioridade sobre o Homem, esse ser incrível que, ao tempo em que cria a possibilidade indiana de visitar parte obscura da lua ainda não conhecida, é capaz de queimar a floresta impondo sua sanha de destruição.

A primavera, sempre se disse, é a estação das flores, do renascimento, da renovação, do reencontro com sonhos e esperanças, sob o acalanto da mudança de temperatura que abandona o frio do inverno para preparar o calor do verão, esquentando desejos e quimeras, construindo paixões que com as flores se confundem  no mistério da entrega.

Outubro é magico, porque mágicas são as flores que nele vicejam, porque compõe a magia do perfume natural  do tempo que se renova, porque alimenta de beleza os pássaros que constroem o renascimento, porque entrega flores a corações apaixonados que as querem doar, porque traz o brilho do sol em lugar do quase-escuro que o inverno contém. E por isso encanta janelas que se abrem para o tempo novo, anima serestas  e seresteiros, incentiva  apaixonados que fazem das notas musicais a transmissão de seus sonhos,  soa a rima no coração do poeta  que dá sorriso aos lábios da mulher amada em oferenda.

Outubro já foi mês em que se realizaram eleições para escolha de governantes e de parlamentares deste país, para continuar ou para renovar, mesmo que nem uma coisa nem outra trouxesse para os que votavam a satisfação plena do que a tanto os movia.

Foi a 3 de outubro a eleição do Presidente que teimou em fazer a construção da nova Capital Federal, ainda que renegando a plano menor necessidades outras, mas que realizou sonho antigo com candangos que  entregaram suor e vida, fazendo novo um Brasil pensado e administrado a partir de seu próprio âmago geográfico.

Foi também a 3 de outubro que a maioria do eleitorado brasileiro, entusiasmada com campanha da “vassourinha” que prometia varrer a corrupção e todos os seus artífices, “limpando” o Governo do quanto não prestava, elegeu comandante que escolheu governar enviando bilhetes a quem o deveria assessorar e, por razões jamais proclamadas oficialmente, embora conhecidas, renunciou, abdicando da obrigação que o povo lhe impusera e contribuindo, com o gesto despido de coragem real, para rumo novo da política brasileira.

Na rebeldia de então, até o outubro, 3, ficou substituído por novembro, 15, e o processo de escolha afastado de eleitores verdadeiros e restrito a parlamentares, como se a eles, ilustres alguns, até, se lhes houvesse transmitido a cidadania, por renúncia. Era a tal da eleição indireta que não maculou outubro, pelo menos não diretamente.

O fechamento do Congresso, a aposentadoria de Magistrados, a cassação de mandatos, o fechamento de sindicatos, a extinção de faculdades, tudo isso que só os que decretaram podem saber se era necessário e outubro foi, então, quase sem flores, salvo as que sangravam de saudade,  apenas mais um mês de contribuição de tempo para o que, sob influência francesa, muitos chamam de endurecimento político.

Outubro deveria ser, no Brasil, o mês de Maria. Perdoem-me os católicos, como eu, mas espero não estar a pronunciar nenhuma blasfêmia, eis que nutro respeito profundo à aparição aos três ‘pastorinhos” portugueses em maio. É que no mês em que “estão brotando as flores” há por aqui as duas maiores manifestações de fé à Mãe de Jesus. Em Belém, capital do Pará, no segundo domingo do mês dá-se o incomparável Círio de Nazaré, procissão que congrega fiéis contados em milhões e que é precedida por outras, durante a semana, seja para conduzir a pequena imagem santa a municípios do Interior do Estado, seja para levá-la sobre as águas e sob a guarda da Marinha do Brasil, seja para recebê-la e conduzi-la cercada de motos e bicicletas, seja, enfim, para  transportá-la à Catedral para o percurso do raiar do dia seguinte A corda que ali há, tão disputada pelos fieis, muitos descalços e sofridos, é símbolo de puro amor em sacrifício e os gritos são loas à fé. Nada há que a tanto se compare.

Em tempo próximo, até igual como neste ano, reverencia-se com festa do espírito a padroeira do Brasil e Nossa Senhora Aparecida parece invadir o mais íntimo do espírito proclamando o Bem e a Vida.

É em outubro que as crianças são homenageadas, reservado  a elas o dia 12, que é também o da Santa do Brasil, embora para muitas isso seja apenas mais uma sucessão de minutos e de horas em que permanecem nas ruas em busca de ajuda que lhes permita levar para casa o pão de cada dia, postergando para nem sabem quando o tempo de ir à escola.

No dia 15, a homenagem é para os que, à maneira de como fez a professora Sebastiana Braga, dedicam suas vidas, o melhor de sua juventude e até o brilho de seu outono, a amar e a conduzir filhos que não são seus, construindo com eles, a cada dia, na magia única da sala de aula, o tempo de depois. Daqui deste canto entrego a todos, em reverência, as flores que se renovaram.

Neste nosso outubro de contradições, com desertos que substituíram rios, trazendo fome, tirando água, plantando sofrimento e dor,    caminhando para o tempo final, minha prece fervorosa à Mãe para que nos ajude a reconstruir e que as águas vindouras sejam bentas de Amor e de Luz.

Não vou falar de invasões e de defesas, de horror e de choros por cadáveres  postos ao chão, ou nem encontrados, de mísseis e de drones, de explosões e de gritos em desespero, porque quero ficar no plano humano, sem conceder espaço à estupidez da guerra que leva à morte os que nem sabem pelo que lutam.

Prefiro outubro rosa, não porque conseguimos  apaziguar  o conflituoso Oriente, mas porque nele falamos de incentivo à prevenção e ao combate do câncer de mama, que tantas mulheres temem e de que tantas outras são vítimas.

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Redação
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