Além dos benefícios para saúde, a prática pode gerar emprego e renda às comunidades amazônicas
A Amazônia possui mais de dez mil plantas com princípios ativos com potencial medicinal, na área de cosméticos e da agricultura, como forma de controle de pragas naturais e sem consequências nocivas como os agrotóxicos. Uma das formas mais tradicionais e populares é o uso de ervas e plantas para tratamentos de doenças e melhorias na saúde. A prática exige conhecimento e pode contribuir para a proteção da floresta amazônica, de acordo pesquisas.
Do total de espécies, pelo menos 300 já foram catalogadas, de acordo com o Plano de Amazônia Sustentável (PAS), publicado em 2008. Segundo o documento, desde 2005 o Conselho Nacional de Saúde mantém um decreto que propõe o uso de plantas medicinais no Sistema Único de Saúde (SUS), com “segurança, eficácia e qualidade”. Em maio deste ano, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgaram os resultados de um diagnóstico sobre o potencial produtivo de plantas medicinais, aromáticas, condimentares e alimentícias no Brasil. Ao todo, foram mapeadas as cadeias de valor de 26 espécies de plantas.
O estudo ressaltou toda a cadeia produtiva, desde a plantação até a geração de emprego e renda. O mapeamento faz parte do Projeto ArticulaFito – Cadeias de Valor em Plantas Medicinais e os resultados, que estão disponíveis na internet, ressaltam que a valorização das ervas e plantas medicinais é uma forma também de proteção à Amazônia. “A crise ambiental que estamos vivendo colocou novos desafios e esse desafio do desenvolvimento sustentável se coloca exatamente no nosso ponto central ao valorizarmos os produtos da sociobiodiversidade, ao valorizarmos as populações tradicionais que são as grandes protetoras dos nossos biomas”, diz o coordenador de Relações Institucionais da Fiocruz, Valcler Rangel, em entrevista à Agência Brasil.
Fundação oferece curso em Coari (AM)
Com foco em desenvolver estratégias de conservação da Floresta Amazônica, a Fundação Opção Verde, localizada no município de Coari (AM), criou o projeto “Saúde Vem da Natureza”. Realizado gratuitamente, o projeto propõe cursos e mentorias que buscam, a partir de uma orientação especializada, esclarecer informações científicas à população sobre a utilização das ervas e plantas na saúde preventiva e curativa, além de ensinar o uso seguro desta alternativa com base nas diretrizes dos órgãos brasileiros.
Ao todo, duas edições foram realizadas no prédio da Fundação Opção Verde, localizado na Rua 2 de Agosto, 501, Centro. De acordo com Márcia Rebeca, responsável pelos projetos da fundação, a procura foi tão grande que houve a necessidade de montar uma segunda turma.“Visando atender as necessidades em torno da procura pelo curso, optamos por realizar um módulo extra, e foi um sucesso. Ao todo, participaram 14 pessoas que foram instruídas pelo farmacêutico Bruno Cunha dos Santos”, comenta ela, lembrando que cada participante recebeu um kit com camiseta personalizada, máscara de proteção, apostila, ‘farmacinha’ de ervas e plantas medicinais e uma pasta para transporte do material.
Na oportunidade, o profissional especializado informou que o Sistema Único de Saúde (SUS) validou um trabalho científico que deu origem a uma cartilha de ervas e tratamentos de doenças, junto com a medicação ou substituindo totalmente a medicação manipulada em laboratório. “O farmacêutico esclareceu que existem casos e casos, e que o uso excessivo dessas ervas e plantas da nossa floresta também podem causar uma intoxicação. Por isso a necessidade de aprendizado”, reforçou Márcia.
Ao final dos dois dias, os participantes receberam um certificado. “A experiência foi bastante positiva, pois conseguimos levar informação para aqueles que, muitas vezes, utilizam nossas ervas e plantas de forma errônea. E, a partir do conhecimento, tudo pode melhorar, inclusive a consciência ambiental com relação à proteção da floresta, que é a principal missão da Opção Verde”, finalizou ela.
Saiba mais
O ArticulaFito prevê uma série de ações para preservar as produções e incentivar esses mercados. Entre elas, estão capacitações, pesquisa e desenvolvimento, intercâmbio de experiências, feiras e eventos para promoção comercial, arranjos institucionais, inclusive com o Sistema Único de Saúde (SUS) e acompanhamento técnico aos empreendimentos mapeados. A informação é da Agência Brasil. Em 2019, o Mapa lançou o programa Bioeconomia Brasil – Sociobiodiversidade, com o objetivo de organizar políticas públicas e realizar ações para fortalecer as cadeias produtivas que usam os recursos naturais de forma sustentável.
A Fundação Opção Verde é uma instituição brasileira com o propósito de proteger a Floresta Amazônica em áreas vulneráveis a ações depredatórias. Manter a floresta em pé é a missão da entidade. Estratégias, ações comunitárias e inovações tecnológicas estão entre os recursos usados para colocar em prática as atividades de monitoramento, conscientização e desenvolvimento sustentável nas áreas de atuação da fundação.