Saúde, eis a questão
Os velhos e tortuosos caminhos da saúde. Embora raramente trazidos para o grande público, os debates e disputas em torno da questão da saúde andam intensos. O discurso oficial é fazer a população acreditar que o aporte regular de recursos resultará na melhoria dos serviços de saúde aos cidadãos. Saúde é um direito de todos, não um privilégio de poucos.
A saúde, por sua importância para a vida de milhões de brasileiros, certamente precisa de bastante recursos, mas esse não é o problema. Jamais haverá dinheiro suficiente, se a estrutura pública for incapaz de identificar e resolver os problemas do sistema e muito menos de oferecer os resultados esperados pelas pessoas. Não é quanto existe para gastar, é como se irá gastar. Hoje a burocracia consome de 60% a 70% dos recursos disponíveis para a saúde e privilegia-se a atenção à doença, relativamente à promoção da saúde. Mantido o grau atual de ineficiência da estrutura pública, os recursos adicionais à saúde vão ficar pelo caminho, nas atividades meio e o dinheiro obtido jamais será suficiente.
Na minha opinião, três quesitos são fundamentais para que as ações sejam eficazes: a existência e a qualidade do plano de ação, a governabilidade sobre o plano previamente estabelecido, e se for assumido como questão política no sentido mas amplo e indiscutivelmente a mobilização da comunidade. É imprescindível que se tenha sempre em mente que as profundas e inadiáveis mudanças que se fazem necessárias só se tornarão possíveis com a mobilização do povo.
Existe uma dicotomia muito grande no sistema atual, levando a uma condição onde ninguém entende o que está fazendo e sua relação com o todo. Em consequência, o profissional de saúde está sempre “livrando-se” dos problemas e os pacientes, dos diversos níveis de atendimento, ficam sem saber o que vai acontecer a partir do momento em que forem “atendidos”.
Do mesmo modo, ou até pior é a contra referência. Se a referência é desastrosa a contra referência é o próprio desastre.
Concluo dizendo que esse assunto não se esgota aqui, muito pelo contrário, apenas começa. Deve-se discuti-lo no dia a dia, como profissionais conscientes e enquanto cidadãos. Não se pode esquecer que participação não se dá por Decreto e sim através de Conquista.
O desafio, portanto, aí está. E é tarefa urgente a busca de modelos alternativos para implementar-se uma efetiva política para o setor que garanta o direito de acessos a todos os brasileiros aos serviços de saúde, de forma equânime e sem distinção de qualquer tipo como expresso na Constituição.