A proposta de privatizar ou terceirizar os serviços públicos de saúde pode até parecer, num primeiro momento, uma solução para melhorar a gestão ou cortar gastos. Mas, na prática, essa mudança traz uma série de prejuízos, tanto para a população, que depende do SUS, quanto para os servidores públicos que dedicam sua vida profissional e carreiras a esse sistema. Um dos efeitos mais imediatos da privatização é a perda de autonomia e valorização dos servidores. Muitos cargos comissionados, e os chamados GDC”s que funcionam como reconhecimento ao trabalho de profissionais experientes e comprometidos com o serviço público, deixam de existir ou são ocupados por pessoas indicadas pelas empresas terceirizadas. Isso tira do servidor a chance de crescimento dentro da carreira e enfraquece a lógica da meritocracia no setor público.
Além disso, quando se entrega a gestão da saúde a entidades privadas, o foco deixa de ser o interesse coletivo e passa a ser o lucro. Isso significa menos espaço para o servidor público atuar como planejador, fiscalizador e executor de políticas de saúde. Aos poucos, o papel do Estado se resume a repassar dinheiro e contratos, e não a garantir um serviço de qualidade para todos da comunidade.
Outro ponto crítico é que a privatização rompe com a estabilidade das relações de trabalho. Enquanto o servidor público tem garantias legais que permitem uma atuação técnica, segura e imparcial, os trabalhadores terceirizados são contratados de forma precária, com salários mais baixos e sem a mesma proteção que um servidor concursado teria. O resultado é um ambiente de trabalho instável, com alta rotatividade e menor compromisso com a continuidade do serviço.
E quem sofre com tudo isso? O cidadão. A população que depende do SUS começa a enfrentar um atendimento mais lento, menos humanizado e muitas vezes direcionado apenas aos serviços “mais rentáveis”. O princípio da universalidade e da equidade, que é a base do sistema público de saúde, vai sendo substituído por uma lógica de mercado, onde quem tem dinheiro é mais bem atendido, e quem não tem, fica para depois.
Portanto, é importante entender que a privatização da saúde pública não é apenas uma questão de gestão. Ela representa uma mudança profunda na forma como o Estado cuida das pessoas e valoriza seus servidores. Valorizar o Servidor Público é garantir que o SERVIÇO DE SAÚDE continue sendo um sistema gratuito, acessível, técnico e humano, feito por servidores que conhecem a realidade da população e que são parte essencial desse cuidado.
Humberto Santos | Servidor Público | Bacharel em Direito.