Pesquisa apresenta robô de telepresença para enfrentar os desafios em cenários de pandemia e seca extrema na Amazônia

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Oferecer maior sensação de presença a pacientes hospitalizados e em isolamento é o objetivo do robô desenvolvido por Ingrid Marina Pinto Pereira, egressa do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal do Amazonas (PPGEP/Ufam). Kaiapó, que significa ‘vida’ no tupi guarani, é capaz de permitir a conexão com especialistas em Saúde de outras localidades e também com familiares, em caso de isolamento por doenças infecciosas.

Orientada pelo professor Marcelo Albuquerque de Oliveira, a pesquisa foi defendida no último dia 23 de agosto e tem caráter inovador devido aos avanços propostos e à melhoria no atendimento à saúde da população em áreas remotas. Segundo a estudante, a iniciativa surgiu durante a pandemia de covid-19 e as dificuldades de comunicação com os pacientes internados em isolamento. Fora do contexto pandêmico, o projeto visa otimizar o acesso à saúde em áreas remotas, com uma redução significativa de custos e componentes.

“A funcionalidade do robô é ser aplicado nas áreas remotas para dar a sensação de presença do atendimento remoto de médicos/especialistas à distância. A diferença em relação a uma consulta virtual seria a questão de trazer esse aspecto de conexão com o paciente. O celular consegue fazer a videoconferência, mas com o robô tem esse lado de também ter movimentação e outros sentidos além da visão, o que ajuda nessa conexão para um atendimento com maior qualidade”, expõe a mestre Ingrid Marina Pereira.

“O que se pretende é ter uma solução de fácil acesso por meio do uso de tecnologias (internet de alta velocidade e estabilidade) que sejam usadas em regiões de difícil acesso (comunidades afastadas que possuem UBS básica, por exemplo). A questão da redução dos componentes dá-se em função de que, pela abordagem de manutenção, quanto mais itens, mais chances de falhas. Quando você reduz a quantidade de componentes, você reduz essa chance de eles falharem, ou seja, é um projeto mais robusto”, explica o professor Marcelo Albuquerque.

O robô é caracterizado por sua estrutura inspirada na forma física de uma “Peteca”, um brinquedo tradicional indígena, simbolizando a conexão com as culturas locais e a simplicidade de uso. Este design foi escolhido para tornar o robô acessível e familiar ao público-alvo, facilitando sua aceitação e utilização em comunidades indígenas e outras áreas remotas. O projeto do robô “Kaiapó” também poderá ser uma solução promissora para enfrentar problemas de saúde em situações de seca extrema, como as que têm ocorrido em torno da capital Manaus, ampliando seu potencial de aplicação para além do contexto pandêmico.

A proposta desta tecnologia emergente não apenas melhora a conectividade e o suporte psicológico para populações isoladas, mas também responde a necessidades urgentes de saúde pública em cenários de difícil acesso. “Por exemplo, você precisa se deslocar para um atendimento da sua comunidade para a sede do município. Na nossa região estas comunidades são distantes. A situação climática dificulta esse deslocamento, o que seria minimizado ou evitado caso a unidade de saúde desta comunidade fosse atendida pela solução apresentada com o robô de telepresença”, pontua o docente.

O robô ‘Kaiapó’ foi concebido com base em uma abordagem integrada que combina o Design Thinking [metodologia para desenvolver produtos com base em um conjunto de requisitos para aprimorar a experiência do usuário], DFMA (Design for Manufacturing and Assembly), [metodologia de criação de produto que facilite sua montagem e produção], e manufatura aditiva [criar objetos a partir de modelos virtuais com deposição, adição de material em camadas], permitindo a produção rápida de protótipos e a adaptação do projeto conforme as necessidades regionais. “A ideia é propor uma solução que dê mais agilidade aos entendimentos nas nossas comunidades. Além disso, nosso programa de mestrado se caracteriza por ações de impacto social na nossa região, e precisamos mostrar isso”, detalha o orientador.

De acordo com os pesquisadores, o objetivo da pesquisa de mestrado de Ingrid foi elaborar e apresentar o arcabouço conceitual do robô “Kaiapó”, incluindo a produção de seu primeiro protótipo oco (sem as outras fases da pesquisa: eletrônica e programação). Para alcançar a implementação completa, ainda são necessários avanços significativos, especialmente na integração de hardware motorizado e no desenvolvimento do software de controle”, informou o orientador. “O desenvolvimento foi utilizando a impressão 3D para as peças e partes e o projeto se centrou apenas na parte estética e mecânica, não incluiu IA (inteligência artificial), partes elétricas e nem sistema informatizado ainda. Por isso, ainda não foi testado por profissionais da saúde em seu pleno desenvolvimento, tratando-se de um protótipo mecânico”, completou a pesquisadora. “Tanto a Ingrid quanto os professores do programa estão ativamente empenhados na continuidade da pesquisa, visando concretizar o desenvolvimento integral do robô “Kaiapó” e maximizar seu impacto nas comunidades amazônicas”, ressaltou o professor Marcelo Albuquerque.

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Redação
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