Lourenço Braga, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas
lourencodossantosperirabraga@hotmail.com
Este será, provavelmente, o mais reduzido dos textos que já ousei escrever, desde quando, no grupo escolar “Antônio Bittencourt”, a zelosa e amada professora Sebastiana Braga a tanto me conduzia, como dever escolar de pelo menos duas vezes na semana. E o rigor da correção ia além da concordância verbal, do uso apropriado de termos e expressões, de lógica na exposição, porque exigia uma espécie de compromisso pessoal com o que resultava escrito. A análise da mestra era, sempre, construtiva e se pouco aprendi a ela não se lhe pode atribuir responsabilidade qualquer.
Serei sucinto, curto mesmo para não ser grosso, eis que me imponho o dever de poupar os poucos leitores dos adjetivos apropriados para definição da inércia, do pouco caso, da quase indiferença de algumas autoridades, daqui e dali, diante da calamidade que se estabeleceu no lugar da maior reserva florestal do planeta com incêndios contados às centenas, quase todos criminosos, ao que li, a tornar simplesmente irrespirável o ar nesta que já foi a Paris dos Trópicos no tempo rico do látex.
Parece termos certa vocação para os diminutivos, mesmo que algumas “inhas” dos tempos mais recentes tenham servido a desastres que se aproximam do a que agora assistimos. Na década inicial deste século, ouvimos todos que certa onda de comprometimento da economia global prestes a chegar ao Brasil aqui aportaria como simples “marolinha” e o que se viu, sabemos os que assistimos, não correspondeu à promessa. Ao final da segunda década, uma “gripezinha” definida pelo comandante-em-chefe desta nação tupiniquim levou luto a centenas de milhares de brasileiros de todas as classes sociais, superlotou hospitais, fechou escolas, desabitou ruas, sacrificou o comércio e a indústria, e ainda hoje deita efeitos sobre a vida cotidiana. E não vou falar da “missãozinha” atribuída a um técnico de futebol que simplesmente guarda o lugar para quem será contratado com salários astronômicos para dirigia a nossa Seleção mesmo depois de se haver julgado superior e até debochado de nós outros.
É que a calamidade de que trato foi considerada, ao início, como uma “nuvenzinha” de fumaça, que se haveria de dissipar ao longo da manhã em contato com o calor escaldante a que o bendito sol nos tem submetido. Cresceu, como se deu com a onda econômica e com a Covid 19 (20, 21, 22 e não sei mais quanto…) e passou a configurar grave ameaça à saúde da população, sobretudo de crianças, de idosos e dos que, em qualquer tempo da vida, possuem comorbidades próprias do aparelho respiratório.
Não fora essa vocação para o diminutivo e, certamente, as autoridades públicas se teriam reunido para, quem sabe, instituir uma força-tarefa que contasse com a proverbial disponibilidade de militares do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, bombeiros (militares e civis), policiais, enfim, para, com os recursos apropriados, chegarem aos muitos focos de queimada e proceder ao combate do fogo, envolvendo a comunidade local na responsabilidade pela manutenção da floresta sem arder.
Ao mesmo tempo, o envolvimento de profissionais da Ciência, das Universidades, dos Institutos e de Organizações da chamada sociedade civil quem sabe poderia resultar na construção consciente e competente de meios e modos eficazes de preservação do ar contra tudo de ruim que na fumaça se contém. A esse propósito, entretanto, destaco que não estou a tecer loas a determinada figura pública que, em momento de construção de sonhos, certamente, imaginou a possibilidade de estocar o vento. Não é disto que cuido, natural e obviamente, nem estaria eu a sugerir que, uma vez estocado como queria a primeira-magistrada, pudéssemos abrir as comportas e substituir o que está contaminado.
A letargia parece ter dominado o organismo estatal, até que, afinal, depois de mais de dez dias eis que representantes do governo central aqui chegam para informar que na próxima segunda-feira estarão encaminhando uma brigada de menos de 150 homens para atuar no combate aos incêndios cujos focos são conhecidos desde o primeiro sinal de fumaça e a partir do controle que se opera (ou deveria operar) com tecnologia de ponta que permite o geoprocessamento da região.
Com sorte nossa, na terça-feira ou na quarta-feira as ações podem ser iniciadas. Felizes os que sobrevivermos até lá, obrigados a ainda inalar todas as porcarias desse ar envenenado.
A Pasta do Meio Ambiente parece não ser das mais felizes nos tempos de agora. Não faz muito, seu titular queria fazer “passar a boiada”, enfiando goela abaixo da população mudanças na estrutura da legislação pertinente, enquanto todos estávamos preocupados com a “gripezinha” de que falava o “chefe”. Agora, com a Amazônia ardendo em fogo, o Amazonas tomado de fumaça, justo o que se diz ser o pulmão do mundo, a “pressa” com que se age parece querer dizer que se trata de um meio ministério do ambiente, que só mostra força e vigor para impedir a recuperação da estrada construída para nos conectar com o resto do País.
Perdoem se fui grosseiro.