ENTÃO, É NATAL

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Lourenço Braga, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas

lourencodossantospereirabraga@hotmail.com

 Ao saber  que fora escolhida para ser a mãe de Deus na Terra, Maria ficou ciente, pelo mesmo anjo, de que Isabel, esposa de Zacarias, estava grávida, e resolveu empreender longa viagem para visitar sua prima, com quem terminou por ficar em torno de três meses. E foi aí que terá pronunciado, segundo Lucas, talvez a melhor definição do significado da vinda do Menino ao mundo dos homens, fazendo cumprir profecia tantas vezes repetida. Recebida com alegria, a Virgem de Nazaré, louvando ao Pai por havê-la escolhido para a mais nobre e santa das missões, proclamou haver Deus desconcertado os corações dos soberbos, derrubando do trono os poderosos e exaltando os humildes, saciando de bens os indigentes e despedindo de mãos vazias os ricos.

Em seu retorno, Maria foi informada de que César Augusto ordenara  registro que se assemelhava ao que hoje conhecemos como recenseamento, obrigando a todos que se cadastrassem em suas cidades de origem, à vista do que José, seu esposo, tinha o dever de  empreender viagem para Belém, lugar dos ancestrais da família de Davi, à qual pertencia, com o que ela deveria concordar, na condição de esposa, segundo as leis e os costumes de então. Além disso, havia antiga predição, sem definição do tempo de sua ocorrência, de que o Messias nasceria em Belém, o que talvez fosse também de conhecimento da jovem grávida que, mesmo sem experiência qualquer, podia imaginar as dificuldades de percorrer caminho que conduziria a uma altitude considerável, de mais de 700 metros. Maria, entretanto, não se furtou ao desafio e, em admirável demonstração de coragem, de amor e de fé, pôs-se sentada em um jumentinho, que José conduzia à frente, até o alívio de avistarem a cidade de destino.

Provavelmente em razão do que decretara Cesar, era grande a quantidade de pessoas que haviam acorrido a Belém para o necessário registro. Assim, não havendo lugar na estalagem para que se hospedassem, José e Maria viram-se obrigados a recolher-se ao estábulo que havia ao lado, onde animais dormiam e se alimentavam. A esse tempo, provavelmente já eram fortes os sinais, em dores que antecipam o parto, de que a jovem estava para tornar-se, efetivamente, mãe, trazendo ao mundo a criança que o anjo Gabriel anunciara como o maior dentre todos os reis que então reinavam na Terra.

Acomodaram-se na estrebaria e ali receberam, por obra da Divindade, o Menino a quem Maria deveria chamar de Jesus, como lhe fora anunciado e que reinaria entre os humanos por todo o sempre. Nenhum conforto, nada de cuidados especiais como se costuma fazer nos tempos modernos, nenhuma testemunha, além de José, que não fossem os animais que ali habitavam. Maria enfaixou a Criança nos panos de que dispunha e a colocou em uma manjedoura, em verdade um cocho onde é servida comida a animais. E a alegria que lhes ia fundo era infinitamente maior que o cansaço da longa viagem, ao mesmo tempo em que a fé extremada os colocava em adoração em torno da Luz.   Medo? Talvez, porque humanos, mas havia no íntimo de cada um, certamente, a convicção de que Deus  cuidaria de tudo que era, em verdade, Sua obra maior. Nascera Jesus, o Redentor do mundo que faria o resgate dos pecados e ensinaria aos homens os sentimentos da caridade, da bondade, da solidariedade, da justiça, da compreensão e do perdão e que para isso entre nós ficaria por mais de 30 anos.

Não demorou para que ali chegassem pastores que, durante a noite, haviam sido comunicados por um anjo do nascimento do Menino. Com a glória de Deus feita em luz, dissera-lhes que o Cristo acabara de nascer em Belém. Logo depois, uma multidão de anjos visitou o lugar para, em alegria singular, louvar a Deus. Com 8 dias, Maria e José levaram o Menino para ser circuncidado, como o costume lhes impunha, e na oportunidade deram-lhe oficialmente o nome de Jesus, à maneira do que lhes fora dito por Gabriel a quando da anunciação. E a 40 dias foram de Belém a Jerusalém, caminhando cerca de 10 quilômetros, para apresentar, no templo, as ofertas de purificação então permitidas aos mais pobres: duas rolas ou dois pombos. Foi quando Simeão, idoso a quem havia sido prometido não morrer antes de conhecer o Messias, aproximou-se para, em emoção incontida, O saudar e dizer a Maria que um dia uma espada lhe traspassaria o coração, predizendo a dor da crucificação a que assistiria mais de três décadas depois. Também Ana, uma profetisa, aproximou-se e se pôs a falar de maravilhas que Jesus realizaria, encantando a quantos ali se encontravam e que, no dizer de Lucas, aguardavam o livramento de Jerusalém. E a visita ao templo há de ter servido para fortalecer a fé também no íntimo dos santos pais encantados com tanta luz e com tudo que Dele se dizia.

Festejando o Natal, no 25 próximo, entre presentes e ceias, visitas e abraços, lembre dos que não estão mais entre nós, chamados pelo Pai  para outro mundo, e os abrace com o coração, em prece fervorosa para que sejam felizes e abençoados pelo Menino na caminhada de agora. Divida com eles, em comunhão de fé, a alegria da vida.

Não deixe de orar pelos que não têm ceia, nem recebem visitas porque recolhidos a presídios  ou esquecidos em hospitais, em asilos ou casas de repouso, que essa será forma de repartir com eles, mesmo à distância, a alegria do dia santificado. Peça ao Criador que os cubra com Seu manto de paz.

Creia que a  luz, mesmo forte e reluzente, só  incomoda ou  perturba os que não a querem  ver. Os que a negam mentem e os que dela fogem firmam pacto com a escuridão. Aqueles que, mesmo com o espírito,  a celebram entre tropeços de sombras mas continuam o caminho, olham o sol,  enquanto os que  a escondem ou que dela se esquivam teimam em buscar o atro do nada.

E porque é Natal, trago o que escrevi, falando de luz, em uma quase poesia:

Perguntaram ao cego um dia

como era que fazia

se nada ele enxergava,

em verdade nem sabia

aonde ia, como estava,

nem mesmo luz conhecia,

de pronto ele respondeu

com voz profunda e calma,

sorriso que Deus lhe deu,

via com os olhos da alma

e não lhe faltava luz,

seu guia era Jesus.

FELIZ NATAL!

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Redação
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