Com o objetivo de fortalecer organizações de mulheres artesãs indígenas, foi realizada a oficina de “Empreendedorismo Sustentável”, entre os dias 17 e 19 de setembro, no município de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus). As atividades beneficiaram 20 participantes e aconteceram no curral do Boi Garantido, espaço cedido pela agremiação folclórica do boi-bumbá vermelho e branco da Ilha Tupinambarana.
A oficina faz parte do projeto Parentas que Fazem, implementado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), com apoio do Google.org, instituição filantrópica do Google, e em parceria com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Rede de Mulheres Indígenas do Amazonas (Makira-E’ta).
Participaram da oficina artesãs da Organização das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé, de Barreirinha, município vizinho de Parintins. Além de mulheres Sateré, representantes dos municípios de Parintins e Maués. Também estiveram presentes empreendedoras dos povos Hixkaryana, de Nhamundá, vinculadas ao Conselho Geral do Povo Hexkaryana – CGPH.
Ao longo dos três dias de formação, aconteceram aulas teóricas e práticas divididas em três módulos: fundamentos do empreendedorismo e cadeia produtiva; criatividade e economia circular no empreendedorismo; e fortalecimento e sustentabilidade dos negócios. Temas como empreendedorismo sustentável, desenvolvimento de ideias de negócios, economia criativa, inovação em negócios comunitários, economia circular, sustentabilidade nas cadeias produtivas e impacto social foram abordados durante a formação.
“A oficina tem o objetivo de oferecer para as parentas conhecimentos técnicos acerca da temática empreendedorismo sustentável, a fim de melhorar a gestão de seus negócios. Isso contribui para a geração de renda dessas mulheres, suas famílias e associações, valorizando as técnicas tradicionais de artesanato e fomentando a cadeia da bioeconomia”, explica a supervisora do subprograma indígena da FAS, Rosa dos Anjos.
Empoderamento, resistência e representatividade
Inara Waty, da Associação Watyamã, participou da formação e contou que o artesanato não é somente uma fonte de renda, mas também símbolo da existência e resistência do povo Sateré-Mawé.
“Essa capacitação foi essencial para valorizar ainda mais nosso artesanato. Aprendemos como é importante a forma de se organizar e a luta social que realizamos pelos direitos, principalmente das mulheres. Nossa bandeira de luta é a mulher e como ajudá-las a terem autonomia dentro do território e nas cidades. Uma forma de alcançar isso é por meio do artesanato”, explica Inara.
Atualmente, a Associação Watyamã tem 180 mulheres indígenas associadas, sendo 32 trabalhando diretamente com o artesanato. Segundo Inara, as mulheres que participaram da formação levarão os conhecimentos adquiridos para as demais associadas, multiplicando assim os saberes.
“Aprendemos muitas coisas que não sabíamos, como o conceito de bioeconomia. Aprendemos que a nossa floresta gera sustento, empregabilidade e renda, e que podemos conseguir isso mantendo a floresta em pé, sem degradar. Nós, povos indígenas, já fazemos isso, mas não sabíamos que tinha um nome. É importante saber para entender que nosso território é rico e que somos ricos em saberes tradicionais”, disse a artesã.
Segundo Inara, o projeto Parentas que Fazem já está abrindo as portas para novas oportunidades de negócio para a organização. “Aqui mesmo durante a oficina, já recebemos propostas de trabalho. O projeto abriu nossos olhos e nossa mente para as oportunidades. Quem sabe, possamos fazer uma oficina dessas dentro do nosso município, onde mais mulheres da organização possam participar”, disse.
Inara também falou da representatividade de receber a oficina em Parintins, palco do maior festival folclórico a céu aberto do mundo, e que homenageia a cultura dos povos indígenas.
“O Festival Folclórico de Parintins fala dos povos indígenas, e nós, mulheres artesãs, que cuidam da terra, pajés, fazemos parte disso e precisamos desse fortalecimento. Quando o Garantido abre esse espaço para a gente, traz consigo uma coisa que eles levam para a arena, que é o empoderamento das mulheres indígenas. E hoje a gente se sentiu empoderada através dessa oficina. Queremos que essa iniciativa avance mais e mais, mostrando que nós, mulheres indígenas, podemos, que nós somos capazes”, declarou.
Até o momento, o projeto Parentas que Fazem já realizou quatro oficinas, sendo duas em Manaus, uma em São Gabriel da Cachoeira e a última em Parintins. A próxima está prevista para acontecer no mês de outubro, no município de Benjamin Constant.
Sobre a FAS
A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia. Sua missão é contribuir para a conservação do bioma, para a melhoria da qualidade de vida das populações da Amazônia e valorização da floresta em pé e de sua biodiversidade. Com 16 anos de atuação, a instituição tem números de destaque, como o aumento de 202% na renda média de milhares famílias beneficiadas e a queda de 39% no desmatamento em áreas atendidas.
Sobre a Coiab
A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) é uma organização indígena com 35 anos de atuação na defesa dos direitos indígenas à terra, saúde, educação, cultura e sustentabilidade, considerando a diversidades de povos, e visando sua autonomia por meio de articulação política e fortalecimento das organizações indígenas. É a maior organização indígena regional do Brasil em número de povos incluídos e área de abrangência. Atua em nove estados da Amazônia Brasileira (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e está articulada com uma rede composta por associações locais, federações regionais, organizações de mulheres, professores, estudantes indígenas, e subdividida em 64 regiões de base.
Sobre a Makira E’ta
A Makira E’ta – Rede de Mulheres Indígena do Estado do Amazonas é uma Organização da Sociedade Civil (OSC) independente, privada, de interesse público, sem vínculos político-partidários, com fins não econômicos, fundada no dia 29 de julho de 2017. Tem como missão a promoção e o desenvolvimento social, político e econômico, com prioridade à mulher indígena. A Makira E’ta acredita em uma sociedade com igualdade de oportunidades a todas as pessoas e neste o protagonismo da mulher indígena, principalmente nas comunidades que não são alcançadas pelas políticas públicas estaduais e municipais.
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