Em um mundo dominado por telas e pela exposição de vidas aparentemente bem-sucedidas nas redes sociais, a pressão para os jovens fazerem as escolhas “certas” sobre o futuro profissional é cada vez maior. A situação se agrava com um dado preocupante: segundo o IBGE, a faixa etária de 18 a 24 anos concentra o maior índice de desemprego do país (14,9%). Porém, é possível aliviar a carga emocional sobre os estudantes e as escolas têm um papel fundamental nesse processo.
“A escola não pode ser só um lugar para pegar o diploma. Ela tem que ser um porto seguro. Um espaço onde o aluno respira, entende que o caminho profissional é uma maratona, não uma corrida que precisa urgentemente alcançar a linha de chegada. É preciso ter essa consciência para não reforçar as pressões que os alunos já sentem. Uma boa saúde mental é essencial para que esse estudante seja também um bom profissional”, afirma a diretora-presidente do Centro de Ensino Técnico (Centec), Eliana Cássia de Souza.
A escola em Manaus já formou mais de 3 mil alunos em 15 anos de atuação. Mesmo oferecendo quase 30 cursos distintos em nível técnico, auxiliar e especialização, todos partem do princípio de que é essencial discutir saúde mental. Um exemplo é a disciplina básica de Psicologia do Trabalho, presente em todas as formações.
As ações voltadas a transformar a escola em um ambiente mais acolhedor começam antes mesmo das aulas. “Realizamos anualmente nosso concurso de bolsas, um projeto social para garantir descontos de 100%, 50%, 30% e 15% para os estudantes, por todo o curso. Já é tradição receber os alunos com chocolates e picolés, para aliviar a pressão da prova”, comenta a diretora.
Pressão é real
A psicóloga e técnica em Recursos Humanos Erika Corrêa Rangel, 32, diz que sentiu pressão profissional e até de familiares antes de conseguir se estabelecer na área de gestão de pessoas, que sempre lhe interessou. Embora tivesse uma graduação, ela sentia que aquela não era a sua área.
“Eu estava em uma posição que sentia não ser minha. Então, decidi procurar o curso técnico de RH no Centec e sair da minha antiga empresa para justamente me retirar da zona de conforto. Foi quando tudo mudou, porque seis meses após estar desempregada, eu consegui um trabalho”, conta.
Oportunidades
Embora a construção de um ambiente saudável seja essencial para os estudantes, Eliana destaca que a escola pode ir além, buscando oportunidades para eles. Uma das possibilidades é firmar parcerias com empresas para a oferta de estágios profissionais.
“Muitos estudantes ficam preocupados sobre como serão inseridos no mercado de trabalho após a formação, mas, na escola, temos uma disciplina de estágio supervisionado que já contribui para vencer esse processo. O nosso setor de estágios possui parcerias com empresas locais e um banco de talentos com os currículos dos nossos estudantes, inclusive egressos”, diz.
Especialmente em formações técnicas, nas quais o estudante aprende atuando na prática, pode surgir a pressão de sentir que não treinou o suficiente antes de concluir o curso. Segundo Eliana, no Centec os alunos aplicam os aprendizados em uma série de eventos abertos ao público externo.
“Temos laboratórios preparados para receber o público externo em eventos periódicos, como o Dia da Mulher, por exemplo. No Salão-Escola, oferecemos serviços estéticos e de cabelo. Já com os alunos de enfermagem e análises clínicas, realizamos triagem de pacientes, incluindo aferição de pressão, e prestamos orientações de saúde ao público”, comenta.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil