ANO NOVO

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Lourenço Braga, do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas

lourencodossantospereirabraga@hotmail.com

Em dias que se contam nos dedos de uma das mãos estaremos em 2023, novo ano, que haverá de ser festejado logo em seu primeiro minuto com abraços, brindes, beijos, juras, promessas e muitos, muitos fogos de artifício embelezando os ares e incentivando em cada um a crença no tempo que se inicia.

Também haverá saudade, à vista dos assentos vazios, dos sorrisos que não serão ouvidos, dos afagos daqueles que Deus chamou para jornadas outras, restando aos que ficaram pedir à Divindade, em preces contritas, mesmo com lágrimas no coração, bençãos e luzes para  as caminhadas novas.

No réveillon, sinos tocando para saudar o ano criança, orações nos templos e em muitas casas, festa no coração dos que recebem de Deus a graça de estar entre os seus, ainda que possam alguns nem mesmo se encontrar no gozo da saúde plena. Haverá igrejas de todas as crenças iluminadas feericamente e devotos ouvirão hinos entoados pelos coros que terão a acompanhá-los violinos e outros instrumentos de corda, talvez até órgãos, e  Aleluia será cantada com alma  e fervor de fé.

Nas praias, à margem de rios, de lagos ou de mares, a beleza dos que se congraçam em oferenda a Iemanjá,  presentes construídos com arte e amor intenso, orações e cânticos maviosos, ensaiados muitos, outros brotados ali da forte emoção que a todos domina na festa da entrega.   Muitos  os contatos que se fazem, então, com o mundo dos espíritos e não são poucos os pretos velhos, as velhas mães, os erês que comparecem para, usando a energia de médiuns vários, participar da festa, deixando bençãos e axés, distribuindo amor e alegria, fazendo encantados os muitos instantes de permanência entre os vivos. E os filhos de fé, contados aos milhares, vestidos de branco, pés descalços,  abraçam a esperança para saudar a paz e louvar a vida.

O tempo que está chegando traz consigo o símbolo do começo: primeiro dia do ano, do mês e da semana, parecendo querer iniciar em cada um a vida nova que muitos pedem no brinde do champagne espoucado com exuberância singular,  finas taças onde o cristal encanta, da cerveja servida em tulipas menos dispendiosas, também belas, ou em copos simples de vidro ou plástico usados no  cotidiano da vida comum, ou da velha cachaça para servir ao “santo”, seja índio ou caboclo, com charuto ou cigarro, na praia ou no terreiro, entre sons de  atabaques e danças que repetem os que vieram bem antes de nós e que ensinaram, nas senzalas que no Brasil os guardavam da fuga, a bela cultura dos povos africanos.

É hora de renovação de promessas. Dos que dizem querer deixar de lado o vício do fumo,  da bebida, do jogo ou do uso da droga proibida; dos que falam em dieta para recomposição estética do corpo ou mesmo em benefício da  saúde; de alguns até que prometem retomar a realização regular de exercícios, ao ar livre ou nas academias já famosas por tudo que oferecem de recursos com orientação de competentes profissionais de educação física. O correr do ano confirmará o cumprimento de alguns desses compromissos, talvez, outros muitos acabando por ficar para tempos futuros.

Também é comum a renovação de juras de amor, de casais que se proclamam apaixonados e que falam de eternizar sentimentos, em bela troca de entrega e de encontro de espíritos e de almas. E há beijos, intensos e carregados de desejos, que parecem selar, como verdades indiscutíveis, os sonhos desses momentos. Recebem felizes o ano que chega como promessa de alegrias, de construção e de felicidade.

É hora de olhar para dentro de si mesmo em busca de identificar o que precisa mudar e de convencer-se de que estamos nesta passagem da existência para plantar o amor, respeitando em cada um o direito às suas próprias escolhas, sem discriminação de qualquer natureza ou origem, que afinal em nada somos diferentes na essência e todos aqui viemos para cumprir o papel de viver e conviver.

No ano que todos desejamos seja bem-vindo renovam-se os governos, em todos os Estados, no Distrito Federal e na União, com líderes que permanecem, porque reeleitos, outros que chegam para substituir. O que deles se deve esperar é que trabalhem arduamente para  cumprir os compromissos que assumiram durante a campanha política, o que, afinal, há de ter sido o que lhes garantiu a vitória. É indispensável enfrentar os problemas, as dificuldades e os desafios a cada dia, a cada hora do tempo que lhes cabe, sem perder de vista a necessária correção das desigualdades sociais, que expõe nas ruas a miséria, a fome, o abandono, a descrença, fazendo crianças aprenderem na esmola que não interessa a escola, jogando no chão a dignidade dos milhões que não conseguem prover as necessidades mais básicas de suas famílias com o produto do seu trabalho honesto, garantindo atenção à saúde a quantos dela necessitem e promovendo educação pública que efetivamente prepare para o futuro.

Fazer o que precisa ser feito há que ser a regra primeira, sem perder tempo com a preocupação de demonstrar que  estarão preenchendo lacunas causadas por equívocos, por inações ou por qualquer outro dos males tão costumeiramente atribuídos aos que saem. Afinal, como já foi tantas vezes repetido, quem tem fome tem pressa e ninguém se alimenta de discursos eloquentes ou de demonstrações tolas de superioridade. É preciso construir, penso, corrigindo o que houver de ser  mudado, sem descurar a compreensão de que as urgências não permitem perder tempo com o que não foi, ou deveria ter sido, atendendo com igualdade aos anseios de brasileiros de todas  as idades, de todas as crenças e de todas as convicções políticas.

Que as tão tradicionais reformas administrativas absolutamente próprias do começo de cada governo não incluam, como  tantas vezes já vi, atribuir ao servidor público a responsabilidade pelas dificuldades financeiras do Erário. São todos, de qualquer nível, especialização ou tipo de trabalho, essenciais ao desempenho dessa ficção que se chama Estado, a quem, afinal, dão vida, e respeitá-los é reconhecer-lhes a indispensabilidade da dedicação e do trabalho de cada um. Aos aposentados, o mesmo respeito pelo quanto já fizeram.

Aqui no meu canto, o peito inundado por lágrimas de saudade, oro pela paz no mundo e desejo um ano feliz em todos os lares, sob o signo do Amor.

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Redação
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