Sempre que ouço falar em administração pública, percebo que muita gente ainda associa o assunto só à política, papelada e repartições públicas. Mas, pra mim, vai muito além disso. Administração pública é a forma como o governo organiza e presta os serviços que impactam diretamente a nossa vida, como saúde, educação, segurança, transporte, limpeza urbana e tantos outros. É basicamente a gestão do que é de todos, e por isso mesmo exige ainda mais responsabilidade.
O grande desafio é que administrar o que é de todos não é simples. Ao contrário do setor privado, que trabalha com foco no lucro e em resultados rápidos, o serviço público precisa atender a todo mundo, mesmo quando os recursos são limitados e as demandas são enormes. É uma balança difícil de equilibrar.
Um ponto que me incomoda bastante é o excesso de burocracia. Eu entendo que existam regras pra garantir a transparência e evitar abusos, mas, na prática, o que vejo é um sistema que trava quem quer fazer diferente. Muitas ideias boas acabam engavetadas porque o processo é lento, engessado e cheio de “nãos”.
E pra piorar, tem ainda a questão da influência política dentro dos órgãos públicos. Isso é algo que vejo com muita preocupação, porque muitas vezes quem quer realmente trabalhar acaba sendo sabotado ou desmotivado por interesses políticos. Pessoas técnicas, comprometidas, que entram com vontade de melhorar as coisas, acabam ficando de mãos atadas ou são escanteadas por não seguirem certos jogos de interesse. Essa interferência enfraquece o serviço público e desvaloriza quem quer fazer a diferença.
Outro problema é a falta de planejamento de longo prazo. A impressão que tenho é que muita gente no poder só pensa nas próximas eleições, e não nas próximas gerações. Isso gera políticas que mudam o tempo todo, obras que nunca terminam e desperdício de dinheiro público.
Também acredito que falta mais diálogo entre o governo e a população. Em vez de tomar decisões lá de cima, sem escutar ninguém, o ideal seria aproximar mais as pessoas das decisões. Hoje a gente tem internet, redes sociais, canais de ouvidoria… Mas ainda vejo pouca gente usando isso como deveria. E, pra ser sincero, o próprio poder público também não incentiva muito essa participação.
Por outro lado, não posso deixar de reconhecer que existem bons exemplos. Já vi municípios pequenos que fazem um ótimo trabalho com o que têm, apostando em gestão responsável, servidores capacitados e criatividade sendo bem fortalecida. O problema é que essas iniciativas ainda são exceção, quando deveriam ser regra.
Vejo que um caminho possível começa pela valorização das pessoas que realmente querem contribuir com o serviço público, seja dando mais autonomia técnica, seja reconhecendo o esforço de quem trabalha com seriedade, escutar mais a população e usar melhor as ferramentas que já existem, como a tecnologia e os canais de participação, também faz diferença.
Não se trata de reinventar a roda até porque isso não é um assunto novo, mas de fortalecer o que já dá certo e fazer com que as boas práticas deixem de ser exceção e se tornem rotina. Quando há compromisso com o coletivo, diálogo e boa gestão, os resultados aparecem. E é por aí que acredito que a administração pública pode evoluir dado um passo de cada vez, com soluções simples, mas bem aplicadas.
Na minha opinião, a administração pública só vai funcionar de verdade quando quem estiver lá entender que está cuidando do que é de todos, e não de um patrimônio privado. Isso exige honestidade, uma grande vontade de trabalhar e principalmente respeito por quem depende dos serviços públicos, que é praticamente todo mundo.
Adriano Sobral
Bach. em Administração e Contabilidade
Pós-graduado em Gestão Pública